Ayahuasca: Uma abordagem toxicológica do uso ritualístico
Atualizado: 25 de jan. de 2022
Artigo Científico escrito por
Maria Carolina Meres Costa
Mariana Cecchetto Figueirero
Silvia de Oliveira Santos Cazenave

Resumo
O chá da Ayahuasca vem sendo utilizado milenarmente por índios da América do Sul, como instrumento espiritual e ritual, com extrema religiosidade. No século passado surgiram seitas não-indígenas, que passaram a fazer uso do chá. Essa utilização vem aumentando desde a liberação do uso da Ayahuasca para fins religiosos no Brasil. A ação do chá deve-se à presença de alcalóides nas plantas utilizadas na sua preparação: o cipó Banisteriopsis caapi e as folhas do arbusto Psycotria viridis. Os efeitos observados são: alucinações, hipertensão, taquicardia, náuseas, vômitos e diarréia. Estas ações podem causar efeitos mais sérios ao organismo e, portanto, merecem maior atenção dos profissionais da saúde, no sentido de que se promovam estudos que possam permitir a utilização religiosa do chá sem maiores danos biológicos e para a conscientização dos usuários sobre os possíveis efeitos tóxicos destas substâncias.
Introdução
A palavra Ayahuasca é de origem indígena. Aya quer dizer “pessoa morta, alma espírito” e waska significa “corda, liana, cipó ou vinho”. Assim a tradução, para o português, seria algo como “corda dos mortos” ou “vinho dos mortos”. No Peru, encontrou-se o seguinte significado: “soga de los muertos”, (Labate e Araújo, 2002).
O chá da Ayahuasca consiste da infusão do cipó Banisteriopsis caapi e as folhas do arbusto Psycotria viridis. O uso – inicialmente restrito aos povos indígenas – passou a ser incorporado pelas civilizações e vilarejos da Amazônia Ocidental, surgindo o vegetalismo (medicina popular de civilizações rurais do Peru e da Colômbia, que mantém elementos antigos sobre plantas, absorvidos das tribos indígenas e influências do esoterismo europeu dos colonizadores) (Labate e Araújo, 2002).
No início do século XX, o uso de substâncias psicotrópicas na sociedade ocidental era quase inexistente – com exceção do álcool (Labigaline, 1998) – e embora a tradição da bebida seja comum a diversas tribos de grande parte da América do Sul (Peru, Colômbia, Venezuela, Bolívia e Equador), somente no Brasil desenvolveram-se religiões não-indígenas que utilizam a Ayahuasca. Estas religiões reelaboraram as tradições antigas com influências do cristianismo, espiritismo kardecista e religião afro-brasileira (Labate e Araújo, 2002).
A liberação da Ayahuasca para uso em rituais religiosos no Brasil representou a liberdade de culto e um aumento significativo dos adeptos do chá.
Do ponto de vista toxicológico, o uso do chá pode trazer efeitos nocivos ao organismo como: desidratação, por conta das náuseas, vômito e diarréia comumente relatadas, e a síndrome serotoninérgica, sendo que a última é a consequência mais grave desta utilização (Callaway et al., 1999; Callaway et al., 1994; Sternbach, 1991).

Objetivos
Geral
O objetivo deste trabalho foi avaliar o padrão de uso da infusão de Banisteriopsis caapi com a Psycotria viridis (chá) no contexto ritual.